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A memória dos nossos nomes

Já comecei a anotar as minhas resoluções de ano novo. 

Por exemplo:

1. publicar mais selfies no Instagram;
2. com legendas anti-self.

 

O grande desafio do escritor de legendas é achar boas desculpas para publicar fotos que são muito mais importantes para ele do que para qualquer outra pessoa.

Neste caso, por exemplo, se fosse para ser totalmente sincero, eu deveria me gabar ridiculamente, dizendo "olha, como ainda pareço jovem e bonito". Mas não digo, prefiro divagar sobre o desafio de escrever uma legenda respeitável para uma foto pueril, o que não deixa de ser bastante sincero da minha parte, e uma desculpa inútil afinal: todos sabemos que estou me gabando, inclusive por escrever esta engenhosa legenda com uma difusa pretensão literária.

Conhecemos bem o risco que corro, pois o sujeito que não se constrange, por pouco que seja, ao se mostrar vaidoso, ou é um tolo completo, ou é um verdadeiro artista.

Como é frágil a memória dos nossos nomes…

A não ser que sejamos eleitos um desses raríssimos heróis da raça, a sua marca se apaga em 3 ou 4 gerações. Nós como eles, no entanto, contribuímos igualmente para a mais espantosa realização: deixamos no mundo a marca humana.

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