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Mostrando postagens de dezembro, 2020

Os exilados

  Voltar ao Nordeste, não por saudade, nem por bairrismo, tão pouco de um modo exterior, como se procurasse por um lugar entre coordenadas precisas: voltar para compreender o que há do Nordeste em mim. Voltar com saudade, não da terra, não dos costumes ou do folclore, mas voltar com saudade do meu pai, que tinha o Nordeste em sua alma, não em seus hábitos. Na verdade, o Nordeste, para ele, resumia-se a poucos gestos: comer cuscuz todo dia, ouvir novamente Asa Branca, "a canção mais bonita do mundo", e cometer um ato de bravura de vez em quando - ou de brabeza, que é outra coisa, ele advertia. Lá em casa, nos acostumamos a vê-lo como um sujeito manso, tímido até, mas onde cresceu, em Catende, zona da mata de Pernambuco, havia gente que lembrava de um jovem magro, elegante e brabo, o Amarelo de Zé de Sales, que, para a surpresa de todos, tornou-se de um dia para o outro, no final dos anos 60, protestante, indo logo estudar em um seminário rural, onde eu nasci. Qu