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Mostrando postagens de novembro, 2020

A recusa

Refusal , de Maria Sidljarevich.   Em 2020, todos nós viramos pacientes terminais ao mesmo tempo, uma experiência que até então era, para a nossa geração, absolutamente privada e familiar, ocorrendo aqui e ali, de vez em quando, sob a maior discrição, a não ser que você fosse uma dessas celebridades a frequentar manchetes ou alguma subcelebridade a transmitir nas mídias sociais tudo o que acontece em sua vida. Há poucos dias, eu vasculhava alguns reports da Gartner e, num deles, encontrei uma lista dos riscos existenciais que estamos correndo já faz um bom tempo e preferimos não levar devidamente a sério: além das pandemias, o estudo comentava a inteligência artificial, as armas nucleares, o aquecimento global e a biotecnologia. No caso da covid-19, eu achei desde o início um exagero falar em extinção da espécie, pois a maioria de nós, supus, sobreviveria à doença terminal coletiva, embora ela não fosse exatamente uma gripezinha. Agora, com o mundo preparando-se para a vacinação

A memória dos nossos nomes

Já comecei a anotar as minhas resoluções de ano novo.  Por exemplo: 1. publicar mais selfies no Instagram; 2. com legendas anti-self.   O grande desafio do escritor de legendas é achar boas desculpas para publicar fotos que são muito mais importantes para ele do que para qualquer outra pessoa. Neste caso, por exemplo, se fosse para ser totalmente sincero, eu deveria me gabar ridiculamente, dizendo "olha, como ainda pareço jovem e bonito". Mas não digo, prefiro divagar sobre o desafio de escrever uma legenda respeitável para uma foto pueril, o que não deixa de ser bastante sincero da minha parte, e uma desculpa inútil afinal: todos sabemos que estou me gabando, inclusive por escrever esta engenhosa legenda com uma difusa pretensão literária. Conhecemos bem o risco que corro, pois o sujeito que não se constrange, por pouco que seja, ao se mostrar vaidoso, ou é um tolo completo, ou é um verdadeiro artista. Como é frágil a memória dos nossos nomes… A não ser que

escrita do mundo

como pode a cena do mundo um roteiro que ninguém nunca leu mas todos fingimos que sim? há com tudo posto ainda este lugar um pouco depois da aurora onde estamos nós prontos mais uma vez a reescrever a cena do mundo