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Duas notas sobre o desaparecimento do Homem

1.

Quando Foucault escreveu que o Homem estava prestes a desaparecer do horizonte das ciências humanas e o puro discurso era o que lhes restaria como objeto de estudo, ele não imaginava, até onde sei, que sua previsão se cumpriria numa ciência muito diferente: a ciência da computação.

Pois bem, neste campo, o desenvolvimento da inteligência artificial só deslanchou a partir do momento em que os cientistas desistiram de descobrir como funciona a inteligência humana de fato - o Homem desapareceu do seu horizonte.

Eles deixaram de tentar reproduzir a sua essência, que jamais encontravam, para construir sistemas que, por meios que nada têm de essencialmente humanos, conseguem ainda assim se comportar inteligentemente.

A era do puro discurso pode não ter chegado, mas a era da pura inteligência parece ter começado. E eu não estou usando a palavra pura porque tal inteligência seja superior ou perfeita, muito menos desejável. Não se trata de um juízo de valor.

 

2.

Quem trabalha com propaganda não pode acreditar que exista alguma verdade primordial sobre o que é o ser humano ou sobre o que as pessoas são de fato.

Há tantos tipos humanos quanto os que as mais diversas culturas possam inventar nos mais diversos momentos históricos - eis o seu credo, o seu saber, a sua prática.

E a propaganda é, em nossa sociedade, um dos mecanismos dessa construção social incessante de novos modos de ser humano.

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